Afinal, por que chama “Minhocão” se ele não é subterrâneo?
Em fevereiro de 2019 veio a público o mais recente projeto de intervenção no Elevado João Goulart, artéria das mais importantes na rede rodoviária de São Paulo. Mais conhecido pela popular alcunha de “Minhocão”, o elevado — que originalmente homenageava um dos ditadores do Regime Militar, o general Costa e Silva — foi construído durante a primeira gestão de Paulo Maluf como prefeito da cidade de São Paulo nos anos 1960 e desde então acumula polêmicas e debates: apontado como uma fissura e cicatriz urbana por muitos urbanistas, que o consideram símbolo de uma cidade voltada exclusivamente para o automóvel, trata-se de um elemento urbano que teria colaborado com a queda dos preços da terra nos bairros que ele corta e com a sua suposta “degradação”. Alvo de inúmeros projetos de intervenção nunca implantados e de uma contínua discussão em torno de sua demolição ou de sua transformação em parque, o destino de ao menos um dos trechos do Minhocão parece ter sido definitivamente alterado para uma estrutura de parque aéreo com a divulgação do mais recente projeto da Prefeitura. Seria o Minhocão nossa versão tropical do famoso High Line de Nova Iorque?
O que o Minhocão significa para a cidade? Como ele é apropriado pelos seus vizinhos? Qual o impacto do novo projeto? Discutimos estas e outras questões no DROPS desta semana.
Sumário
- 55s. Conversa.
Participantes
Esta conversa contou com Arthur Francisco, Gabriel Fernandes e Carolina Pedroso.
Complementos
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- Debate ocorrido na Câmara Municipal de São Paulo em 2016 a respeito dos destinos possíveis para o Elevado João Goulart: Minhocão — um quarentão de futuro incerto.
- Muitos são os projetos já feitos e as discussões acumuladas a respeito da requalificação do Minhocão. Destaquem-se, por exemplos, os resultados da segunda edição do Prêmio Prestes Maia de Urbanismo, promovido pela Prefeitura do Município de São Paulo em 2006. O projeto vencedor, da dupla Juliana Corradini e José Alves, já previa a manutenção da estrutura rodoviária associada à instalação de jardins suspensos.
- Reportagem sobre o novo projeto na revista Veja São Paulo, publicada em 25 de fevereiro de 2019: Prefeitura anuncia a construção do Parque Minhocão.
- Na Wikipédia: Central Artery de Boston e o famoso High Line de Nova Iorque.
- Comentamos sobre o boom imobiliário ocorrido no entorno do High Line e a inevitável gentrificação pela qual passou a região. Destaque-se, por exemplo, esse projeto do escritório de Zaha Hadid para um condomínio de luxo na ponta norte do High Line: 520 West 28th. Já a ponta sul do elevado recebeu a nova sede do tradicional Museu Whitney, com projeto de Renzo Piano. É simbólica para o processo de gentrificação a mudança do museu para esta região da ilha de Manhattan pois sua sede original (famoso projeto do arquiteto Marcel Breuer) localizava-se no exclusivíssimo Upper East Site, uma das regiões mais caras da cidade.
- A Rede Paulista de Educação Patrimonial (Repep) promoveu um inventário participativo de referências culturais que ocorrem no entorno do Minhocão. Estas referências normalmente se associam a grupos sociais tradicionalmente silenciados ou invisibilizados na definição de políticas públicas e projetos urbanos. Mais sobre o trabalho neste artigo: “O patrimônio contra a gentrificação. A experiência do inventário participativo de referências culturais do Minhocão.” (PDF)
- Finalmente, falamos a respeito deste texto das pesquisadoras Mariana Schiller e Paula Santoro em que elas elucidam porque o Minhocão não deve ser o nosso High Line.
Trilha sonora
- Skrotes. 2 da Nêga.
- Whitney Houston. I Will Always Love You.
Acompanhe nossa playlist no Spotify, com todas as músicas já tocadas em nossos episódios.
#foradeprumoacessível
Imagem do que parece ser um verme ou centopeia “levantando-se” e se preparando para o ataque. Ou não. Talvez seja apenas uma posição confortável. Há uma camada de cor rosa sobre a imagem e no canto inferior esquerdo a marcação “F! 3B”
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